DEUS DOS VIVOS

Na proximidade da conclusão do ano litúrgico, a Liturgia nos faz olhar com Jesus para a vitória da vida sobre a morte, a ressurreição da carne. Olhar desde já o horizonte do infinito de Deus.

Ao contrário dos saduceus, o Mestre afirma a fé na ressurreição. Eles trazem uma dificuldade, de quem será a mulher que tiver se casado com sete homens? Jesus explica: na vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento (Lc 20, 35). Afirma, pois, que o casamento é próprio de nosso mundo, da realidade terrena. Na ressurreição ou na condição celeste, “serão iguais aos anjos” (v. 36).

Jesus explica que os mortos ressuscitam, baseando-se em Moisés na passagem da sarça ardente, quando o Senhor é chamado ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. Portanto, Deus é Deus dos vivos e não de mortos (v. 37). Ressuscitar significa que “já não poderão morrer” (v. 36)

 São Paulo, igualmente, sofreu objeção a respeito da fé na ressurreição. Por isso, ele escreveu: “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? ” (1 Cor 15,12).  

Não se trata de simples vivificação de um cadáver (v. 50), mas de transformação, assim descrita: “semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível; semeado desprezível, ressuscita reluzente de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual” (v. 42-43). Assemelha-se ao corpo glorificado do Ressuscitado.

Ao reconhecermos o Deus dos vivos e o Senhor da vida, afirmamos a vida eterna futura e o futuro que já começou em Cristo Jesus, pela graça que brota da Cruz. Na condição mortal, o já e o ainda-não convivem. Já e ainda não anunciamos o evangelho da redenção, da graça salvadora e filial. Já ressuscitamos no batismo para a vida no amor, mas ainda não vencemos totalmente o pecado e o desamor na existência. Já e ainda não respeitamos a dignidade de todo ser humano.

Já e ainda não contribuímos para a transformação da sociedade e a integração dos pobres na vida plena. Já e ainda não possibilitamos o acesso às políticas públicas e às instituições justas. Já e ainda não lutamos pela ecologia integral e ouvimos os gemidos da natureza para socorre-la.

No entanto, o Pai já, desde agora, quer ser Deus dos vivos e não dos mortos. Para isso, enviou seu Filho que morreu e ressuscitou para nos dar a vida em abundância. Deixou-nos sua Igreja para que, no dom do Espírito, sua obra continuasse viva e fosse vivificante no mundo e na história. Por isso, na ousadia da fé, já podemos seguir o caminho que leva direto à Vida.

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