Nosso Bioma

Durante o tempo da Quaresma, realizamos a Campanha da Fraternidade em todo o território nacional.

Este ano de 2017 tem como tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”. O lema bíblico é: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15). Somos chamados, mais uma vez, à “conversão ecológica”, conforme a feliz expressão do Papa Francisco.

Bioma é vida e vida exuberante. Sem deixar de observar os demais, detemos nosso olhar mais atento sobre o nosso. Perspectivemos o conjunto de todos os seres vivos da região centro-sul do Ceará, cuja paisagem natural é semelhante, contínua e típica, comportando a vegetação, a água, os animais, os relevos, a terra ou superfície. O bioma também estabelece e até forja, em grande parte, o modo próprio de relacionamento dos seres humanos com a natureza em condicionamento recíproco. O sertanejo só existe na relação vital com seu bioma assim como o gaúcho do interior aos pampas e assim por diante. Daí a inclusão da cultura, da história, enfim, da religiosidade quando se abordam estas temáticas.

A Caatinga é nosso bioma dado por Deus e tem marca de exclusividade. É o único totalmente brasileiro. Quanto à palavra, origina-se do tupi-guarani e significa mata branca. Alguns especialistas preferem chama-lo de Caatingas pela sua biodiversidade.

Hoje, ao lado do antigo combate à seca, há o estímulo de convivência com o semiárido. Inclui as políticas públicas que ensejaram a rede moderna de infraestrutura social: energia elétrica, adutoras, telefonia, internet, etc. Porém, permanecem carências estruturais, tais como a frágil infraestrutura da saúde, a escassez de saneamento básico e de tratamento de resíduos sólidos poluidores.

As Pastorais Sociais com a Cáritas Diocesana e as Comunidades Eclesiais de Base comprometem-se na convivência com o semiárido, mediante boas iniciativas e exitosas. Empenham-se na defesa da vida plena que inclui o respeito e o cuidado pelo bioma. Enfrentam os desafios ambientais, sociais e econômicos da região. Estimulam as políticas públicas de infraestrutura social. Denunciam as débeis ou inexistentes ou as intervenções agressoras. Promovem os pobres e empobrecidos.

Durante a Campanha da Fraternidade, somos estimulados por dois sacerdotes eminentes e inesquecíveis: Padre Ibiapina e Padre Cícero, ambos nascidos no Ceará. Eles incentivam nossa conversão ecológica atual. Ibiapina é o precursor da valorização da convivência com o semiárido. Ainda no século 19, inaugurou a implantação de águas das chuvas, a construção de açudes e as obras sócio–caritativas para e com as comunidades sertanejas. Cícero ensinava o sertanejo a viver no semiárido. Seus mandamentos ecológicos são um “catecismo” para cuidar da Caatinga, questão de vida ou morte, pois se não fossem obedecidos, dizia: “dentro de pouco tempo o sertão vai virar um deserto só”. Seus preceitos valem até hoje.

Para evitar o que chamamos atualmente de risco do desastre ecológico, Padre Cícero ensinava com sabedoria e simplicidade: “Não toquem fogo no roçado nem na caatinga; não cacem mais e deixem os bichos viverem; não criem o boi nem o bode, soltos; façam cercados e deixem o pasto descansar para se refazer; não plantem em serra acima, nem façam roçado em ladeira muito em pé: deixem o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca sua riqueza; façam uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água da chuva; represem os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta; plantem cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só; aprendam a tirar proveito das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar vocês a conviverem com a seca”.

A Campanha é educativa. Integra-se na quaresma devido à dimensão social e ecológica da fraternidade, mas não esgota a vivência quaresmal. Por isso, nós levemos a sério tanto a liturgia do tempo com seus textos bíblicos e as celebrações penitenciais quanto as devoções, sejam as vias-sacras, sejam as procissões. É o que diz muito bem o Texto-Base: “…estar em sintonia com o espírito da liturgia deste tempo e acolher a seiva da vida que ela nos oferece”. Portanto, atenção a esta sintonia!

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