DESPEDIDA

Depois do sentimento de gratidão já expresso, publicamente, quando dei o motivo de minha renúncia à Diocese de Iguatu, resta-me o ritual de despedida. Farei, breve e oficialmente, durante a missa solene do Padroeiro, São José, na Catedral de Iguatu. Antes, porém, irei me despedir dos diáconos e padres da Diocese que quiserem comparecer à missa e ao ágape fraterno, na véspera.

Nesses dias, tenho meditado nos discursos bíblicos de despedida. Primeiramente, a de Jacó (Gn 49) quando disse adeus a seus doze filhos, designando-os pelo nome e a missão, de modo estético e elegante. Desejou a José a bênção especial e única da plenitude: “Bênçãos dos céus no alto, bênçãos do abismo deitado em baixo, bênçãos das mamas e do seio, bênçãos dos espinhos e das flores, bênçãos das montanhas antigas, atração das colinas eternas, que elas venham sobre a cabeça de José, sobre a fronte do consagrado entre seus irmãos” (25-26).

Bênção é dizer bem; é desejar o bem. Assim o faço sobre todas as pessoas que compõem a Diocese de Iguatu: bênção sobre bênção! Na reciprocidade, muitos foram uma bênção para mim. Bênção de acolhida. Bênção de amizade. Bênção de compreensão. Um memorial de bênçãos levo no coração agradecido, desde quando fui recebido por uma multidão festiva.

Inspira-me igualmente a despedida de Moisés, o homem forte, condutor do povo que “com cento e vinte anos quando morreu sua vista não tinha enfraquecido e seu vigor não esgotara” (Dt 34,7).

Não envelheceu por dentro, tinha condição de bendizer. “A José ele diz: Sua terra é bendita do Senhor: dele é o melhor orvalho do céu e do abismo subterrâneo; o melhor dos produtos do sol e o melhor do que cresce nas luas; as primícias dos montes antigos e o melhor das colinas de outrora; o melhor da terra e do seu produto, e o favor do que habita na Sarça” (Dt 33,13-16).

Hoje nos teria dito de outro modo: Que prospere tuas cidades e campos! Que haja prosperidade e fartura! Que haja chuva, plantação e boa colheita! Que a terra alimente o leite das vacas! Que as flores deem o néctar do mel das abelhas! Que se cultive a paz de viver! Bênçãos do meu desejo!

Mais perto de nós no tempo é a despedida de Paulo ao avaliar o trabalho concluído (At 20,17- 38).Fechou com chave de ouro: “Há mais felicidade em dar do que em receber” (v.35). Bênção de ser feliz por ter se doado e prestado serviço!Acompanharam-no até o navio. Antes, porém, Paulo se ajoelhara em oração. Todos choraram convulsivamente. Lançaram-se ao seu pescoço. Beijaram-no. Bênção da ternura!Bênção da partilha dos afetos! Bênção do reconhecimento!

Há bênçãos de bem-querença. Bênçãos de sensibilidade que não precisam de palavras. Falam por si. Servem para quem fica. Servem para quem parte. Eu as tenho experimentado.

Muito perto de nós, muito perto dos discípulos, na ampla dimensão da amizade, é a despedida de Jesus (Jo 13-17) na sua oração sacerdotal: “Pai santo, guarda-os em teu nome que me deste, para que sejam um como nós”. Quem haverá de compreender e viver este pedido de Jesus? Pede ao Pai o mais difícil para nós, para a Igreja de todos os tempos.

A urgência entre as urgências é o desafio da comunhão, na unidade dos presbíteros entre si e com o bispo e destes com o Povo de Deus e de toda a Igreja com as religiosas e os fiéis leigos a incluir os bispos todos com o Papa. “Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim, a fim de que todos sejam um” (v.20-21).

Sem a bênção da unidade é inútil compor os pilares da pastoral de conjunto. Sem a bênção da comunhão na unidade como ter a boa vontade do ecumenismo e do diálogo inter-religioso?Desejo-lhes, pois, pela intercessão de Maria, a bênção do Pai +do Filho +e do Espírito Santo+, da unidade na comunhão da Santíssima Trindade, nosso Deus de verdade e de amor.

Por: Dom Edson de Castro Homem
Bispo Emérito da Diocese de Iguatu – CE

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