A FESTA DE IGUATU

A maior manifestação pública a aproximar moradores e visitantes, autoridades e populares, devotos e curiosos, na cidade de Iguatu, são as festividades em honra da Padroeira, a Senhora Sant’Ana.

Congratulam-se os habitantes da área urbana e dos distritos e sítios.

A novena preparatória, de certa forma, já é a festa, seja pelo número de participantes, seja pelo esmero da organização. O apogeu festivo, porém, ocorre no dia 26 de julho. Missas pela manhã. Procissão à tarde. Ruas e casas enfeitadas pelos moradores a recepcionarem, no cortejo, as respectivas imagens de Sant’Ana com sua filha, Maria Santíssima, e a de São Joaquim, o esposo. As imagens dizem da vida conjugal e familiar. No encerramento, solene bênção do Santíssimo e fogos de artifício.

Os festejos trazem o traço cultural dos antepassados, favorecido com a participação dos poderes públicos e a colaboração do comércio local; e, especialmente, os cuidados da Paróquia da Senhora Sant’Ana e a liderança do pároco que, além disso, guardam e zelam pela imagem histórica da Padroeira.

Os habitantes de Iguatu celebram os laços de amor em família e a solidariedade entre si. Reúnem gerações: pais, filhos, avós e netos; crianças, jovens, adultos e idosos. Por alguns dias os parentes distantes retornam e se visitam. Participam, como nos velhos tempos, da mesma festa. Desse modo, põem em dia as memórias vivas ou adormecidas.

Chama a atenção ver pessoas octogenárias e mesmo centenárias. Brinca-se que a longevidade é transmitida pela água, pois, Iguatu significa água boa em língua indígena. Embora seja imprescindível à vida, somam-se outros ingredientes: a herança genética; a alimentação natural sem agrotóxicos; a tranquilidade interiorana; o oxigênio do ar; as caminhadas salutares. Falando nisso, muitos idosos andam na procissão com passo decidido. Estão habituados. Sem medo do sol ou do câncer de pele. Constata-se que tal velhice saudável, além de ser um dom, é prêmio à existência bem conduzida.

Não faltam razões para festejar: a beleza da convivência, o valor da coletividade, a superação das adversidades, a fé em Deus em toda a prova. A festa amplia o horizonte vitorioso contra o isolacionismo, o descompromisso, a indiferença, o individualismo. Dá espaço à alegria de viver e ao empenho de entregar um futuro às novas gerações que já crescem.

A cidade celebra com suas contradições. Aproveita, no entanto, para ouvir o apelo a humanizar-se a partir de instituições justas e adequadas, a redescobrir-se como lugar de encontro e trabalho, e de desencontros e abandonos. Espaço do tempo perdido e reencontrado. Mesmo se quiséssemos fugir ou fechar os olhos, esbarraríamos com a miséria humana exposta ou oculta. Bem escreveu o Papa Francisco que, na urbe, tocamos “a carne sofredora dos outros”. Por isso, nela se aprende a ternura e a compaixão dos fortes.

Secularizada e hostil seria a cidade sem festas e símbolos religiosos, pós-cristã a relegar sua origem. Assemelharia ao sacrário vazio ou ao templo devastado e em ruínas. Muito longe disto está nossa querida Iguatu, graças à fiel religiosidade de seus habitantes e o substrato católico expressivo da sua cultura. Há sinos. Tocam. Ressoam. Despertam. Convocam. Que Sant’Ana interceda para que jamais emudeçam!

Consequentemente, os festejos expressam a harmonia entre espaço e tempo oferecidos a Deus, sob o olhar de Sant’Ana, tão próxima, por laços familiares, tanto de Maria quanto de Jesus e, por laços devocionais, também pertinho de nós e de nossa história. Por isto, as mentes e corações transbordam de alegria. Ela é verdadeira e santa.

A cidade em festa só pode ser a metáfora viva do seu bom povo.

Deixe um comentário