VIDA NO ESPÍRITO

A Solenidade de Pentecostes é a festa do Espirito Santo. Proponho para nosso avivamento espiritual e enriquecermos a celebração alguns temas paulinos sobre o Espírito. O Apóstolo apresenta a existência cristã como vida no Espírito, na sua Carta aos Romanos. Contudo, no conjunto das Cartas, reconhece a relevância do mesmo Espírito, santificador e libertador, na dinâmica de sua atuação, seja no cristão em particular, seja na Igreja como um todo.

Para Paulo, o Espírito Santo atinge nossas profundezas, nosso íntimo. Desde o batismo, somos seu templo. Carregamos tal tesouro em vasos de argila, isto é, em vasos pobres e frágeis. No entanto, apesar de nossa pobreza, Ele habita em nós, realmente. É, portanto, nossa riqueza. É o Espírito da nossa liberdade filial e da nossa identidade cristã. Possibilita e estabelece nosso relacionamento com Deus Pai, em Cristo e por Cristo.

Paulo caracteriza a oração no Espírito como própria dos filhos de Deus. É a sublimidade da oração cristã, pois o Espírito se une ao nosso espírito e intercede por nós (Rm 8, 26-27). Une-se à nossa alma para vivificá-la, de sorte que se torna capaz de desprender-se e elevar-se ou mesmo aprofundar-se ao nível dos “gemidos inexprimíveis” do mesmo Espírito. A propósito, Bento XVI aludiu à oração no Espírito, em termos simples, mas profundos: “ouvir a presença do Espírito em nós é aprender a orar ou a conversar com Deus a partir desta mesma presença”.

Importantíssima é a relação entre o amor divino e o Espírito Santo, na Trindade e em nós. Diz Paulo: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Quer dizer que o Espírito nos insere no movimento da vida divina, vida trinitária em Deus, do amor do Pai pelo Filho e do Filho pelo Pai. Tal amor é pessoa. Em nós, une-nos ao Pai pelo Filho. O primeiro fruto desta sublime presença é o amor, seguido da alegria e da paz (Gl 5, 22). Por conseguinte, os santos e os convertidos amam, vivem alegres e transmitem paz duradoura.

O amor une. Espírito-Amor faz a unidade pessoal do cristão e a comunhão na Igreja. Entende-se por que Paulo saúda os destinatários de sua Carta com a expressão “a comunhão do Espírito Santo” (2 Cor 13, 13). Tendemos à unidade porque “fomos batizados num único Espírito, para formarmos um só corpo” (1 Cor 12, 13). Quer dizer que o Espírito de Deus estimula relacionamentos eclesiais fraternos na caridade e solidários com todos os homens e o universo.

Indispensável é o dinamismo do Espírito em prol de nossa salvação eterna. Ele é o penhor da nossa eternidade feliz. Ele garante nossa herança em Cristo. É o selo ou o passaporte para a recepção do prêmio eterno da vitória final (2 Cor 1, 22, 5, 5; Ef 1, 13-14).

Enfim, Paulo faz duas advertências. A primeira é: “não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Discerni tudo o que é bom” (1 Ts 5,19). O Espírito fala pela boca dos profetas. Então, desprezar as profecias é não ouvir o Espírito ou pretender extingui-lo, impedindo que se pronuncie. Que perversa ousadia! Também o Espírito fala pelos carismas, pois existe relação íntima entre carisma e profecia. Por isso, é preciso discernir sem sufocar.

A segunda é: “não entristeçais o Espírito Santo de Deus” (Ef 4, 30). Significa opor os desejos da carne ou o prazer do pecado aos desejos do Espírito santificador, mantendo-se dócil a suas moções que nos faz santos. Há de se prestar atenção ao Espírito para dar saltos na vida virtuosa, em conformidade com o seguimento e a imitação de Cristo. Certamente, tudo que fere a unidade da Igreja e que viola a dignidade humana, ultrajando-a, inclui-se no “entristecer” o Espírito. Tal temática nos põe na linha de grande sensibilidade e de absoluto respeito pelo agir do Espírito.

Por tudo o que o Espírito Santo é em si mesmo enquanto Deus e faz por nós, redimidos por Cristo, vivamos a Solenidade de Pentecostes com louvores e ações de graças. Exultemos de alegria no Espírito Santo!! Esta é também a exultação do Senhor Jesus (cf. Lc 10,21).

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