EVOCAÇÃO DE DOM JOSÉ MAURO ( Quarto aniversário de falecimento)

“À SEMELHANÇA DE UM BOM JARDINEIRO”

Por Osmar Lucena Filho
(Membro da PASCOM da Paróquia de Piquet Carneiro)

Há exatos 4 anos, em 9 de dezembro de 2019 , o luto tomou conta de nossa comunidade diocesana, em face do trânsito, para a Casa do Pai , daquele que foi o primeiro Antistite a assumir o sólio episcopal da Igreja Particular de Iguatu: Dom José Mauro Ramalho de Alarcon e Santiago.
Cearense de Russas, oriundo de família nobre, tendo nascido no dia 14/05/1925, recebera o então diácono José Mauro a ordenação sacerdotal em 5/12/1948.
Muito moço ainda, visto que não tinha, sequer, 40 anos de idade , ocorreu -lhe ser preconizado pelo Santo Padre , o Papa São João XXIII, para exercer o munus de ” primus episcopus iguatuensis”. Estava -se a 13 de outubro de 1961.

Três meses depois, em 6 de janeiro de 1962, os sinos de Russas, certamente , dobrariam em sons de festa, pela elevação, à plenitude do sacerdócio, de um de seus maís ilustres filhos.

Naquela ocasião, em plena solenidade da Epifania do Senhor, o Reverendíssimo padre José Mauro Ramalho, até então Vigário da praiana Aracati, recebia a Ordenação Episcopal.
Enfim, no dia 4 de fevereiro do mesmo 1962, Iguatu e região davam as boas -vindas àquele que , no decurso de 38 longos anos, “à semelhança de um zeloso jardineiro, nos cuidados, que deve ter , para com a desenvoltura da flor” – como está dito na Bula ( documento) de sua nomeação – veio a cuidar da nova Diocese, ora instituída.

Sendo o primeiro ocupante da Catedral de Iguatu, ele traçou, com sabedoria, o arcabouço administrativo da neo-Diocese cearense.

” EU FUI O BISPO DAS CEBs”

Em julho de 2010, já na condição de Bispo Emérito, Dom José Mauro, recebendo -me , em sua residência, para uma sequência de entrevistas, afirmou:

” Eu aprendi a ser Bispo na esteira do Concílio Ecumênico Vaticano II”; para, maís adiante, naquela conversa comigo, também declarar:

” Eu fui, Osmar, o Bispo das Comunidades Eclesiais de Base”.

A VOZ DO PASTOR

Naquele mesmo 2010, a professora Socorro Pinheiro, membro efetivo do “Instituto Dom José Mauro” , ao escrever a biografia do saudoso ” Anjo da Igreja de Iguatu” , para usar uma expressão do Apocalipse, solicitou -me um artigo para o livro ” A Voz do Pastor”.

Afirmei, então , para as páginas do ” A Voz do Pastor”, que a lembrança mais antiga que guardo de Dom José Mauro data de 1974. Com efeito , eu tinha 7 anos, quando ele veio a Piquet Carneiro , para um longo período de Visita Pastoral, de 7 dias, bem intensos , de atividades missionárias.

Na movimentada “agenda” de sua Excelência, havia espaço para conversações com todas as categorias: animadores das comunidades eclesiais de base, catequistas, agentes de pastoral, crianças , jovens, adultos, educadores, políticos.

E certo que ninguém, absolutamente ninguém, escapava à atenção e à consideração de Dom Mauro, que, ali , dispensava toda sua riqueza de conhecimento a serviço de quem se dispusesse a escutá -lo, a interpelá-lo.

Muitos de nós tivemos ocasião de ouvir pregadores e expositores brilhantes. Mas, da têmpera de um Dom José Mauro , é coisa rara na Igreja, pois ele sempre nos encantava com a força do seu verbo – onde está a ” morada do ser”, segundo o filósofo Heidegger.

Verdade é que a Palavra de Dom José Mauro era sempre bem articulada, mediante a construção de frases lapidadas, sem, no entanto, frise -se, usar de linguagem inacessível, sem abusar da paciência dos ouvintes, aliando -se, a tudo isso, o rigor na utilização da língua portuguesa. Numa expressão: palavra iluminada!

Impossível discorrer plenamente , vocês hão de concordar, sobre a pessoa do venerando extinto, nos limites de um texto, assim, como este.

Aqui , portanto, apenas uns rascunhos, apenas um esboço, acerca de quem foi o primeiro Ordinário da Diocese de Iguatu.

Enfim, isto:

A suntuosa Catedral de São José , com sede na movimentada avenida 13 de maio, detém túmulo de Dom Mauro, que se encontra localizado por trás do altar -mor.

Numa singela lápide , o nome dele, e as principais datas da vida deste.

Penso, como acerca da lousa tumular de Dom José Gaspar de Afonseca e Silva ( + 1943) , pensava Dom Benedito de Ulhoa Vieira ( + 2008), antigo arcebispo de Uberaba -MG, que poderíamos acrescentar ao epitáfio de nosso Dom José Mauro, as palavras que constam do túmulo do grande Leão XIII, Papa de 1878 a 1903, inhumado na Basílica de São João de Latrão:

“INGEMUIT ECCLESIA TANTO ORBATA PASTORE”.

( Chorou a Igreja, órfã de tão grande Pastor).

Recorde -o Iguatu, recorde-o Diocese de Iguatu, recorde -o toda a Igreja, porque ele é bem digno dessa evocação!

Requiescat in pace!

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