APRENDENDO A ORAR

Orar é conversar com Deus. Filialmente. Na oração, o homem dialoga. Escuta. Silencia. Não exige nada nem faz barganha. A oração é sempre um ato de humildade quando pede ou agradece ou louva. Exprime a atitude adequada à religião, a ligação ao Mistério. Grandes líderes na Escritura nos ensinam a conversar com Deus, inclusive Jesus, o Mestre da oração verdadeira. Em seu ser e existência, o sentido mais sublime da religião: viver na presença e na intimidade e em obediência à vontade de um Deus- Pai.

Oração a Jesus

Muitas narrativas do Evangelho apontam à oração a Jesus. São doentes com seus desejos e pedidos de cura. Alimentam as súplicas da Igreja inteira, em todos os tempos. No entanto, o pedido, “Senhor, ensina-nos a orar…” (Lc 11, 1), é diferente dos que pedem curas e até de quem pede o aumento da fé para ser curado. Só discípulos é que pedem a oração do seguimento, à semelhança de João que ensinava a seus seguidores.

Oração de Jesus

A observação dos discípulos, enfatizada por Lucas, é que Jesus orava. Retirava-se para orar. Difere da oração comunitária e litúrgica, no templo ou não, de acordo com a Lei. Da oração pessoal de Jesus é que surge o pedido: “Senhor, ensina-nos a orar…” (Lc 11, 1). Refere-se à sua intimidade, no recolhimento orante, tão percebida que impressionava os discípulos admirados. Enseja-lhes a súplica de teor bastante elevado: ensina-nos a orar, ou seja, ensina-nos a imitar-te na oração.

 Com o Pai-nosso, Jesus oferece a oração própria de uma nova família, a dos discípulos orientados ao Pai e a seu Reino. O Cardeal Ratzinger via na nova oração uma das indicações da vontade de Jesus fundar a Igreja ou o novo Povo, pois lhe oferece um conteúdo e um estilo novos de orar. Entretanto, diversos grupos judaicos se distinguiam por fórmulas próprias de oração: os discípulos de João, os fariseus, os essênios.

O certo é que o Pai-nosso põe os seguidores no coração do Evangelho e do discipulado do Mestre. Eis a novidade, porém, em consonância com a tradição orante de Israel. Assim sendo, o Pai-nosso torna-se a prece distintiva da Igreja, pois é a oração de Jesus.

Estudiosos dos Evangelhos observam que algumas fórmulas do Pai-nosso se encontram em antigas orações judaicas.  Na oração litúrgica, ao fim das leituras bíblicas: “Exaltado e santificado seja o seu grande nome no mundo que ele criou segundo sua vontade; domine o seu reino no tempo de vossa vida e nos vossos dias e durante a vida de toda a casa de Israel, já e num tempo próximo”. Na oração do Ano Novo: “Nosso Pai e nosso rei, perdoa e absolve todas as nossas faltas…; cancela, segundo tua grande misericórdia, todos os nossos delitos…”. Nas orações da manhã e da noite: “Não nos conduzas nas mãos de um pecado ou nas mãos de uma tentação”.  (Citado em Fabris, R-Maggioni, B. Os Evangelhos II. Lucas. A Oração dos discípulos no seguimento de Jesus. Loyola, 1992, p. 123).

 Jesus ensina a nos dirigimos com Ele e n’Ele ao Pai. Quer nos unir a suas intenções quanto ao Reino, na trama das relações dos que precisam de pão e de perdão, de vencer o mal e as tentações, sem a perda da lealdade e da ternura. Enfim, recitava os Salmos. Assim, leva à plenitude a oração de Israel e nos insere na mesma salmodia orante.

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