A VINDA DO SENHOR

Quando há crises, guerras, aberrações, distorções na vida pública, se ouve dizer: parece o fim do mundo. Grupos de cristãos e algumas seitas apreciam acentuar que o fim está próximo e Jesus está voltando. Conseguem adeptos. Já aconteceu até de, ousadamente, datarem o retorno de Jesus. Aliás, é conhecida a frase: “…a 2000 não passará”.

Ironicamente, estamos no terceiro milênio enquanto o mundo continua com outras crises, novas guerras e muitas aberrações…   No entanto, a mudança de época, neste novo tempo da história, é pleno de novas esperanças de superação e de vitória, tanto no campo científico quanto no tecnológico. A dificuldade é ética como sempre. Logo, não há motivo para o pessimismo e o alarmismo. É tempo estudo, de pesquisa, de reflexão, de ação.

Há espaço, sim, para a moderação no discurso sobre as mazelas, apontando para a ética da responsabilidade, na construção de um mundo melhor, mais humano e solidário com instituições justas, indispensáveis. Precisa olhar o bem existente para realça-lo.

A presença do cristianismo e, sobretudo, do catolicismo, é de colaboração com a construção da sociedade. Preparando a vinda do Senhor, podemos entregar um mundo familiar e coletivo, mais harmonioso e, assim, aguardar a chegada. Este tema deve-se à conclusão do ano litúrgico e à proximidade do fim do ano. Entende-se que a Liturgia nos traga o discurso escatológico sobre os últimos acontecimentos.

Estamos ainda no ano de Lucas. Ao contrário de outros evangelistas, seu discurso escatológico não permite admitir que a vinda do Senhor seja imediata (Lc 21, 5-19). Fundamenta-se na recomendação: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu’ e ainda: ’O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! ” (v. 8). Esta indefinição quanto ao breve retorno, é saudável porque põe a Igreja em estado de vigilância e de expectativa. É preciso não se descuidar, pois Ele retornará.

Revoluções, guerras, invasões, terremotos, fomes, pestes não significam necessariamente um aviso do fim. De fato, até agora, quase tudo foi reconstruído. Também as perseguições, o ódio dos inimigos, o martírio, nada disto significa o fim. Pelo contrário, Jesus diz que será a ocasião de testemunhar a fé (v. 9-13). Ora, a fé do mártir é semente de novos cristãos, pois o tempo de a Igreja é o vasto período (agora sabemos) de testemunhar com a Palavra e com a vida até a morte.

O testemunho da fé sempre se dará em meio a dificuldades. Pode acontecer em tempo de rejeição até a perseguição e ao martírio, segundo as expressões: “Antes de tudo isso, porém, hão de vos prender, de vos perseguir… Sereis traídos até por vosso pai e mãe, irmãos, parentes, amigos, e farão morrer pessoas do vosso meio, e sereis odiados de todos por causa de meu nome” (v. 12.16).

São João Paulo II disse, na Veritatis Splendor, que o “martírio representa o ápice do testemunho a favor da verdade moral” (93). O mártir ouve a voz da consciência e prefere morrer a calar esta voz. Expressa seu compromisso heroico, “amparado pela virtude da fortaleza”. Na Fides et Ratio, dirá: “o mártir é a testemunha… da verdade da existência. Ele sabe que… alcançou a verdade a respeito da sua vida, e nada e ninguém poderá jamais arrancar-lhe essa certeza” (n. 32). Para tanto, sejamos vigilantes!

1 comentário em “A VINDA DO SENHOR”

  1. É bom ouvir a voz do nosso Pastor imediato na sua fala moderada mas exigente. Como diz o Papa Francisco, façamos como Maria que ouviu, refletiu e agiu.

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