Com o tema “Caminhando ao Campo Santo do Sertão como peregrinos de esperança, preservamos a memória das santas Almas da barragem” a Paróquia de Nossa Senhora das Dores em Senador Pompeu e a Diocese de Iguatu convocam a todo o povo de Deus para celebrar a devoção às Santas Almas da barragem. A temática de 2025 é um convite a transformar a dor da tragédia dos campos de concentração cearenses em força profética de redenção e justiça. Este movimento expressa a vocação cristã de conjugar fé, memória e compromisso social, conforme insistentemente sublinhado pelo magistério pontifício (Francisco, 2024a; Leão XIV, 2025).
A 43ª Caminhada da Seca que será realizada em 9 de novembro de 2025, constitui um dos maiores testemunhos de fé popular do Ceará. Mais do que um ato devocional, ela é uma catequese viva que une memória, esperança e missão, inserindo o povo de Deus no dinamismo do Jubileu de 2025, proclamado pelo Papa Francisco sob o lema “Peregrinos de Esperança” (Francisco, 2024b).
O Papa Francisco descreve o cristão como um peregrino de esperança, chamado a viver uma fé que não se fecha sobre si mesma, mas se projeta em saída missionária. Na Bula Spes non Confundit, o Pontífice afirma que a esperança é a virtude “que sustenta a vida e nos permite não cair no medo” (Francisco, 2024a, n. 22), e que é preciso caminhar sem nos cansar, porque a esperança se aprende no caminho de fé.
O ato de caminhar ao Campo Santo do Sertão assume caráter profundamente escatológico e social: trata-se de um gesto que faz da fé um instrumento de libertação. A peregrinação, longe de ser uma simples travessia geográfica, torna-se expressão da Igreja em saída, “em direção às periferias materiais e existenciais”, conforme Francisco (2024c). Assim, a Caminhada da Seca é um ato profético de caridade, onde o povo do Sertão reafirma sua dignidade diante de Deus e a convicção de que “a oração do pobre eleva-se até o Altíssimo” (Sir 21,5) e que não se pode ignorar “o clamor dos irmãos e irmãs excluídos, feridos e abandonados” (Francisco, 2024c).
A esperança, vivida nesse contexto, é movimento de fé e compromisso histórico, impedindo que o coração endureça e mantendo viva a certeza de que “a misericórdia de Deus é maior que qualquer deserto” (Francisco, 2024d). No sertão, onde a terra árida simboliza as durezas da vida, a esperança se converte em resistência espiritual: caminhar é rezar com os pés e transformar o sofrimento em súplica redentora.
A temática deste ano remete ainda à vocação eclesial de transformar o luto em profecia. A memória cristã é uma ponte entre o tempo e a eternidade; é o lugar onde a dor humana se encontra com a promessa da vida nova em Cristo. O Papa Francisco (2023) destacou que a celebração dos mortos nos recorda duas realidades: a memória dos que nos precederam e a esperança que não decepciona. Recordar os mortos, especialmente das vítimas da tragédia dos campos de concentração, é, assim, reconhecer a permanência da vida no amor misericordioso de Deus e afirmar a nossa solidariedade diante dos episódios traumáticos.
O Campo Santo da Barragem, em Senador Pompeu, torna-se um lugar teológico da memória, um memorial onde a dor histórica da seca e da exclusão é transfigurada pela esperança pascal. Chamar as almas de santas é um ato de fé na vida eterna e reconhecimento de sua dignidade diante de Deus.
A memória, portanto, não é meramente retrospectiva; é profética, projetando sobre o futuro o compromisso cristão de “construir pontes com o diálogo e o encontro, todos juntos num único povo, sempre em paz” (Leão XIV, 2025). Recordar as almas da barragem é assumir uma missão ética: transformar a lembrança das vítimas em luta permanente pela dignidade humana, pela verdade histórica e pela solidariedade social.
A 43ª Caminhada da Seca é, assim, um verdadeiro programa de vida e de fé. O cristão é chamado a ser peregrino de esperança (Francisco, 2024b) e, pela memória, a construir pontes de unidade e justiça (Leão XIV, 2025). É testemunho de que, mesmo diante da tragédia, “a esperança não decepciona, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5,5).
No sertão, onde a dor se mistura à fé, a Caminhada se torna liturgia viva: sacramento popular que reconcilia passado e futuro na comunhão dos santos. O povo caminha, reza e recorda, afirmando que nenhuma vida é esquecida aos olhos de Deus.
O cartaz da 43ª Caminhada da Seca apresenta uma rica simbologia inspirada no tema jubilar “Peregrinos de Esperança”. A cor verde predominante simboliza a esperança que sustenta o povo sertanejo em meio às adversidades. As silhuetas dos peregrinos representam os fiéis que, movidos pela fé, participam da Caminhada em memória das Santas Almas da Barragem. A cruz central indica Cristo como eixo da caminhada, reforçando que Ele é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).
A silhueta da Igreja Matriz representa a fé que une a comunidade, inspirada pelo convite de Pe. Albino Donatti, idealizador da Caminhada. Ao fundo, a serra da barragem iluminada simboliza a luz da fé que resplandece nas terras áridas, enquanto o casarão da inspetoria evoca memória e herança cultural preservadas. As gotas de chuva simbolizam bênção e esperança divina sobre o sertanejo.
O Evangelho de Lucas (4,18-19; cf. Is 61,1-2) apresenta a missão de Jesus em continuidade à profecia de Isaías: anunciar a boa nova aos pobres, proclamar a redenção aos cativos, restaurar a vista aos cegos, libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor.
REFERÊNCIAS
FRANCISCO, Papa. Spes non confundit: Bula de proclamação do Jubileu Ordinário de 2025. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2024a.
FRANCISCO, Papa. Mensagem para o 61º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2024b.
FRANCISCO, Papa. Mensagem para o VIII Dia Mundial dos Pobres. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2024c.
FRANCISCO, Papa. Homilia para a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos (Dia de Finados). Roma: Cemitério de Guerra de Roma, 2 nov. 2023. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2024d.
LEÃO XIV, Papa. Discurso “Urbi et Orbi”. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 8 maio 2025.
BÍBLIA SAGRADA. Bíblia Sagrada: tradução oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). São Paulo: Edições CNBB, 2018. Eclesiástico (Sir) 21,5; Romanos (Rm) 5,5; João (Jo) 14,6; Lucas (Lc) 4,18-19; Isaías (Is) 61,1-2.
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