NATIVIDADE DE JOÃO BATISTA

Ele se chamará João, disse a mãe (Lc 1,60), conforme o anjo Gabriel havia dito ao pai, quando exercia seu ofício sacerdotal: “Isabel te dará um filho e lhe darás o nome de João” (1, 13). Zacarias emudecido, escreveu na tabuinha: “João é seu nome” (v. 63). Também o autor do quarto evangelho distingue o nome: “Houve um homem enviado por Deus chamado João” (Jo 1, 6). Tal nome tem significado: o Senhor lhe é favorável, agraciou-o para uma missão profética.

Deus impõe o nome. Desvela- lhe a missão: o menino “será consagrado pelo Espírito Santo desde o seio materno. Converterá ao Senhor, seu Deus, muitos do povo de Israel, preparando a sua vinda com o espírito e a força de Elias…” (Lc 1, 15-17); “chamado profeta do Altíssimo para preparar-lhe o caminho” (v. 76). Tal missão carismática é própria dos homens de Deus.

O nascimento do precursor de Jesus só podia ser marcado pela santa alegria. Devido à esterilidade de Isabel e a velhice de Zacarias, o regozijo do casal é compreensível. É o reconhecimento da misericórdia divina que lhe concedeu o dom de um filho na idade avançada. Admirados, igualmente os vizinhos e parentes se unem à tanta alegria (v. 58).

O sacerdote Zacarias entoa um cântico profético com referências bíblicas com claros tons messiânicos. Na primeira parte, é um hino de ação de graças por vários motivos da história da salvação: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel porque visitou e redimiu o seu povo…” (v. 68 e se estende até o v. 73). Na segunda parte, é um olhar para o futuro já presente: “Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo; pois irás à frente do Senhor, para preparar-lhe os caminhos, para transmitir ao seu povo o conhecimento da salvação, pela remissão dos pecados…” (vv. 76-77 e se estendem até os vv. 78-79).

A propósito, Rinaldo Fabris comenta que “João Batista está no limiar do tempo novo; ele é o ponto final das esperas e preparações”. Assemelha-se à aurora que anuncia o dia.  De fato, “Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz” (Jo 1, 8).

Quanto à infância e adolescência, são ocultadas tanto quanto as de Jesus. O ocultamento se assemelha a um retiro preparatório junto à família, mergulhado na esperança messiânica. Laconicamente, Lucas escreve que: “O menino crescia e se fortalecia em espírito e habitava nos desertos, até o dia em que se manifestou a Israel” (1, 80). A manifestação será pública, hoje se diria, midiática. Surge como pregador no deserto a atrair multidões, à semelhança dos antigos profetas. Percorre toda a região do Jordão (Lc 3, 3). Prepara o caminho do Senhor, à luz do profeta Isaías (Is 40, 3). Indica “o Cordeiro que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29).

Batiza junto às margens do rio Jordão, consciente de sua profecia, direcionada ao advento de Jesus. Escolhe atitudes provocadoras pelo lugar onde habita, pelo modo de vestir-se e de alimentar-se. Homem da palavra cortante, é instigante: “Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira que há de vir? ” (Lc 3, 7); “Quem tiver duas túnicas, reparta-as com aquele que não tem, e quem tiver o que comer, faça o mesmo! ”  (v. 11). Aos publicanos: “Não deveis exigir nada além do que vos foi prescrito” (v. 13). Aos soldados: “A ninguém molesteis com extorsões; não denuncieis falsamente e contentai-vos com o vosso soldo” (v. 14).

Entretanto, na humildade, põe-se no seu lugar: “vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das sandálias” (v. 16); “Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti, e tu vens a mim? ” (Mt 3, 14). Em contrapartida, Jesus lhe dedica um alto apreço e faz-lhe grandes elogios que podem ser resumidos na declaração: “dentre os nascidos de mulher não há um maior do que João” (Lc 7, 28).

Enfim, dá o pleno testemunho, preso e decapitado, pela coragem de dizer a verdade ao rei: “não te é licito possuir a mulher do teu irmão” (Mc 6, 18). Seu martírio não perde a atualidade, pois demonstra aonde conduz a coerência entre anúncio, fé e vida. A morte coroou seu nascimento.

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